Em todos os rituais de entrada, deve ser lembrado e relembrado uma norma importantíssima referente à conduta da criança quando o professor disser que o jogo acabou. É um comando de dois significados, o primeiro de que todas as crianças a partir do comando devem interromper as brincadeiras que realizam, param de brincar; o segundo é que todas as crianças devem ajudar a guardar os materiais utilizados no decorrer da sessão.
Utilizar da voz de comando: - “o jogo acabou, vamos guardar o material” desencadeia normas que todas as crianças devam cumprir, mesmo que algumas crianças têm tendência em não obedecerem a este comando. Esta desobediência tem fácil compreensão, uma vez que como a atividade desenvolvida é geradora de prazer, nada melhor do que tentar prolongar a sensação.
Somente após o recolhimento do material de jogo é que se dá início o ritual de saída. Lembramos que tudo o que for definido como norma e regra nas relações com as crianças, serão rigorosamente cumpridas, a fim de que o professor não vire uma referência frágil.
Em resumo, a aula como ato pedagógico na psicomotricidade relacional é de forma que as crianças cumpram as normas e as regras de convívio social, e o professor através da estratégia de persuasão levará as crianças a respeitá-las, utilizando-se de estratégias que possam levá-las a reflexões sobre suas atitudes, provocando aprendizagens significativas.
O ritual de saída
Obedece à mesma formação que é utilizada no ritual de entrada, e é realizado no mesmo local do primeiro. É o momento caracterizado como o encaminhamento para o encerramento da sessão. Por ser uma prática corporal, este momento tem um significado especial e de relevância significativa para que os objetivos da prática a que se propõe sejam atingidos plenamente.
É preciso dizer, que nas sessões de psicomotricidade relacional, todos os momentos da rotina da sessão são fundamentais, pois cada qual tem suas finalidades e objetivos. Significa então dizer que cada ritual tem sua função e importância tanto quanto a sessão propriamente dita.
O desenvolvimento do ritual de saída e suas finalidades
A finalidade básica desse momento é o de provocar a verbalização das crianças no grande grupo sobre aquilo que realizaram na sessão, ou ainda, sobre o que mais gostaram de realizar.
Este momento se chama atenção para uma regra básica, de que quando alguém fala, todos os outros escutam, seguindo um princípio norteador, escutar os outros para ser ouvido pelos demais quando for sua vez de falar. O professor sempre procurará interromper qualquer relato para dizer às crianças que conversam enquanto alguém fala que a norma não pode ser quebrada.
Caso ocorra de as regras serem difíceis de serem cumpridas por determinada (as) criança (as), no ritual de entrada da sessão subseqüente, recordaremos a todos as normas da sessão, e logo nos dirigiremos a ela (as) apontando que na sessão anterior não cumpriu com algumas normas recordando-a de tal situação; usa-se o tempo todo da persuasão e não o de fazer ameaças.
Não podemos esquecer que quanto menor a faixa etária das crianças que fazem parte da sessão, maior será a tendência de haver contaminação do discurso. Para tentar evitar este tipo de situação, nos serviremos da heurística, como por exemplo: “O que você era no brinquedo dos pneus?”, após a resposta da criança, colocar outra pergunta, e assim sucessivamente. Além de evitarmos uma resposta única, forçamos a criança a acionar mecanismo de pensamento. Outra estratégia utilizada, será dizer a criança que se viu brincando de outras coisas, e solicitar que ela fale das brincadeiras ou atividades que realizou.
Visto que uma das finalidades desse momento da rotina é fazer com que a criança perca a inibição de falar ou de se mostrar perante o grupo, o ritual de saída para crianças que ainda não falam, é o mesmo, pois o mais importante é oportunizar situações de exteriorização, criando situações que a criança tenha a oportunidade de se mostrar, demonstrar e/ou falar de suas realizações.
Outras estratégias que serão usadas no encerramento da sessão, será a representação gráfica, para isso, serão informadas no ritual de entrada que no final todas receberão, por exemplo: folha de papel, giz de cera para produzirem o desenho da brincadeira que mais gostaram de realizar. Sendo que conforme as crianças vão acabando suas reproduções, o professor se dirigirá a cada criança e ouvirá individualmente as explicações de suas produções.
Testes funcionais X Pautas de observação
Por se tratar de psicomotricidade relacional não utilizaremos de teste de avaliação do perfil psicomotriz da criança como referência de diagnóstico, até porque seria muito simplista pensar numa criança seguindo apenas aspectos biológicos como referência e esquecendo dos aspectos sócio-culturais.
Por entendermos que o vocabulário psicomotriz é uma construção permanente, decorrente das experiências vivenciadas pela criança, não aceitamos a utilização de testes psicomotores padronizados para analisar níveis de desenvolvimento, pois estes testes utilizam da lógica de um único fator, o da maturação biológica.
Não significa que não tomamos como referência às habilidades motrizes que a criança vai adquirindo no decorrer do tempo, a questão é como proceder para avaliar os processos evolutivos, seja na ordem que forem. O importante num primeiro momento é identificar quais são as habilidades que a criança apresenta quando iniciamos o trabalho com ela, para que possamos dimensionar sua evolução a partir dos estímulos que vamos oferecer. As comparações serão sempre em relação a história prévia de cada criança. O instrumento utilizado para avaliar, será a observação.
As observações serão feitas em relação à atuação de determinadas crianças em concreto, para tanto, é impossível se observar a todas. Quanto à observação, antes de cada sessão, serão eleitas algumas pautas de observação, como por exemplo:
1) Observar se toma iniciativa ou se costuma seguir os iguais;
2) Observar sua comunicação (se se comunica, não se comunica, formas de comunicação);
3) Observar como está estruturada a linguagem (evolução da linguagem, palavra-frase, frase gramatical, frase agramatical, ausência ou palavras de dislalias, presença de linguagem egocênctrica, da linguagem socializada e qual predomina quando brinca);
4) Observar se há algum jogo de preferência (fixação em um jogo) qual?
5) Observar a trajetória que a criança realiza na sessão;
6) Observar a preferência por objetos e as habilidades motrizes evidenciadas na manipulação;
7) Observar sua tendência às atividades coletivas ou individuais (perceber como ela faz essa trajetória);
8) Observar se transita entre o movimento técnico e simbólico (buscar evidências);
9) Observar habilidades e dificuldades corporais, destacando evidências de uma forma e de outra;
10) Observar se apresenta inibição para falar de suas produções (durante os rituais);
11) Observar se cumpre as normas estabelecidas pelo adulto;
12) Observar se é capaz de se disfarçar. Em caso positivo, registrar que papéis assume;
13) Observar a dominância lateral;
14) Observar as representações que prefere quando estimulada a desenhar ou construir.
Muitas possibilidades de pautas de observação existem, entretanto, a observação seletiva não tem a finalidade de fazer avaliação diagnóstica. O importante é com os resultados da observação, auxiliar cada criança na sua individualidade a ampliar sua trajetória de jogo, a fim de que tome iniciativa, seja capaz de falar de suas produções, de variar de jogo, desbloquear sua inibição.
A observação então, será um instrumental indicativo do caminho a fazer com a criança, de forma que ela progressivamente vá eliminando suas dificuldades aparentes de comportamentos e adquirindo novos desafios.
RECURSOS
Dependem das possibilidades oferecidas pela escola ou centro terêutico
AVALIAÇÃO
O projeto será avaliado juntamente com a equipe pedagógica em reuniões periódicas seguindo os critérios:
a) Verificar o nível de aceitação com seus usuários;
b) Analisar as rotinas e se existem resultados positivos evidenciados pelas crianças;
c) Definir novas estratégias de ação com a finalidade de melhor auxiliar aqueles alunos que evidenciem alguma dificuldade.
E com os responsáveis pelas crianças:
a) Inicialmente para apresentar os objetivos do projeto, como também sua metodologia, informando as perspectivas e finalidades;
b) Manter conversas informais permanentes com os responsáveis para ouvir suas opiniões quanto ao processo, bem como conhecer cada vez mais a história prévia de cada criança;
c) Reuniões bimestrais para avaliar o trabalho desenvolvido.
Todas as reuniões seguirão uma pauta pré-determinada pela equipe pedagógica.
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